O vaginismo é um problema sexual que afeta milhares de mulheres. É uma condição bastante comum caracterizada por uma contração involuntária e prolongada dos músculos do assoalho pélvico (que ficam em volta da vagina).
Essa contração tem como efeito uma penetração dolorosa ou impossível, mas não só isso. Inserir um absorvente interno também pode ser problemático, por exemplo. Qualquer ato que vise a penetração sexual ou clínica (como pênis, dedo, O.B., espéculo) pode se tornar dolorosa.
Vejamos mais de perto a definição de vaginismo, quais mulheres são afetadas, as causas e as possíveis soluções para o problema.
Índice
O que é vaginismo?
O vaginismo é uma contração vaginal involuntária. A OMS (Organização Mundial de Saúde) define essa condição como:
“a contração involuntária, repetida e persistente dos músculos perineais que envolvem o início do canal vaginal ao se tentar penetrar com o pênis, dedo, absorvente interno ou espéculo”.
Esse é um reflexo que ocorre a cada tentativa de penetração: o orifício vaginal instintivamente se comprime através dos músculos perineais. A mulher não tem controle sobre esse mecanismo. De uma forma mais simples, podemos dizer que são espasmos involuntários que provocam dor durante a penetração vaginal.
Em muitas mulheres, a mera ideia de penetração pode desencadear esse mecanismo. A penetração torna-se uma fonte de medo e pânico. Uma mulher com vaginismo pode muitas vezes evitar a penetração e contorná-la durante a relação sexual ou outra situação qualquer.
Os casos mais comuns acontecem com toda tentativa de penetração, mas por vezes o bloqueio ocorre apenas com o pênis.
Para compreender esse problema, os médicos usam por vezes a imagem de uma contração involuntária do olho (piscar os olhos) quando se aproxima uma poeira, por exemplo. Na maioria dos casos, a contração muscular não é dolorosa, mas a tentativa de penetrar enquanto a vagina está “fechada” é.
Portanto, não é o vaginismo que causa dor, mas sim a tentativa de penetração.
Esse círculo vicioso inclui: a apreensão da dor, a contração dos músculos perineais, que pode causar dor, assim, reforçando a preocupação com a penetração.
As causas são diversas e, mesmo que sejam psicológicas, a dor é real e intensa.
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O impacto do problema nas mulheres
É muitas vezes difícil sair do círculo vicioso do vaginismo, porque pode se transformar em um fenômeno complexo de rejeição sexual (ou mesmo fobia) associado à frigidez.
Claro que o papel do parceiro é extremamente importante, uma vez que o julgamento de outra pessoa pode ter consequências graves para o psicológico da mulher.
O vaginismo não bloqueia, no entanto, a excitação ou a estimulação sexual: uma mulher pode ter prazer em outros lugares, e a sua vagina produz lubrificação normalmente.
As coisas costumam tornar-se mais complicadas à medida que a penetração se aproxima.
Existem diferentes tipos de vaginismo, que detalharemos abaixo. Nos próximos tópicos vamos entender o que entra em jogo nos diferentes tipos de vaginismos.
Vaginismo do tipo “fobia”
O vaginismo primário do tipo “fobia” é uma condição em que o medo e a apreensão da dor estão na linha da frente para as mulheres. Muitas vezes, isso ocorre por falta de informação e por uma imagem distorcida do sexo e da sua realidade.
Por exemplo, essas mulheres têm medo de ter uma vagina que seja “muito pequena”. Esse sentimento alimenta uma ansiedade em relação a sentir dor durante o sexo ou em ter uma distensão.
A mulher pode, então, procurar estratégias para evitar o parceiro, como afastar a mão dele(a) durante certos toques, temer que ele(a) insira um dedo, manter as pernas juntas, etc. Se ela consentir com a penetração, o sexo será doloroso ou impossível, fomentando a ansiedade e o medo da próxima relação sexual.
O círculo vicioso infelizmente não termina sozinho, porque é muito difícil encontrar soluções por si só, sem ajuda especializada; e, quanto mais o tempo passa, mais medos e reflexos automáticos aparecem.
O exame clínico é muito complicado, pois a inserção de um espéculo é impossível e, na vida quotidiana, a mulher também é afetada: ela não pode usar absorventes internos (O.B., por exemplo) e restringe a escolha de seus parceiros (preferindo alguém mais gentil e compreensivo).
Além disso, o sofrimento psicológico é muitas vezes grande em relação à falta de compaixão.
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Vaginismo: quem devo consultar?
Muitas só vão consultar o médico para buscar soluções para o vaginismo quando há conflitos no relacionamento, quando a mulher e o(a) parceiro(a) já não sabem mais o que fazer. A mulher geralmente teme pelo futuro do casal e, às vezes, tem o desejo de ter um filho e se sente pressionada a se consultar.
Especula-se que o vaginismo afete 1% das mulheres em idade fértil. As mulheres que querem se consultar por causa desse problema devem procurar primeiramente uma ginecologista.
Os diferentes tipos de vaginismo
Há dois tipos de vaginismo, dependendo de quando os sintomas começaram na mulher:
- Vaginismo primário: a penetração tem sido desde sempre impossível ou dolorosa. Essa é a forma mais comum de vaginismo. Ocorre numa idade muito jovem, no início da vida sexual; com frequência, a mulher ainda é virgem.
- Vaginismo secundário: ocorre durante a vida sexual e após um período satisfatório, sem qualquer problema em particular.
Também é possível distinguir dois outros tipos de acordo com a situação em que acontece:
- Um vaginismo do tipo “generalizado”: quando ocorre em todas as situações, independentemente do parceiro ou da tentativa de penetração (exame ginecológico, abosrvente interno, relações sexuais…).
- O vaginismo do tipo “situacional”: quando não é a norma e acontece em situações diferentes; por exemplo: com um parceiro específico, apenas durante a relação sexual, apenas durante exames ginecológicos, etc. Portanto, nem sempre a penetração é impossível.
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O vaginismo também virou um tabu?
Esse é um problema bastante comum na sexualidade feminina, podendo estar presente desde o início ou ocorrer mais tarde.
As mulheres com vaginismo têm muitas vezes vergonha e não contam a ninguém sobre isso, tornando todo o tratamento mais complicado, já que a pessoa pode ter vivido com essa condição durante muitos anos.
Vaginismo é para as mulheres o que os problemas de ereção são para os homens: é difícil falar sobre isso, porque afeta assuntos íntimos sensíveis, referindo-se respectivamente à feminilidade ou à masculinidade do indivíduo.
Quando se trata de casais e de relacionamento, o vaginismo pode até mesmo forçar ambos os parceiros a deixarem de ter relações sexuais. Ou, ainda, pode obrigá-los a optar por tentativas de engravidar com fertilização in vitro ou inseminação artificial, caso queiram ter filhos.
Diagnóstico
Durante a consulta para o diagnóstico do vaginismo, o(a) médico(a) fará algumas perguntas e terá, então, de realizar um exame ginecológico para eliminar a possibilidade de haver uma causa física que impossibilite a penetração.
Às vezes, um hímen muito forte torna a penetração impossível, constatando-se que não se trata de vaginismo. No entanto, uma himenotomia (incisão cirúrgica para abrir o hímen) nem sempre garante a restauração da função sexual normal; isso porque o vaginismo pode ocorrer mais tarde, com a mulher se convencendo de que já tinha esse “mesmo problema” antes.
Muitas mulheres continuam a ter uma vida sexual ativa, apesar do vaginismo, excluindo a penetração das suas práticas. Afinal, um casal não é necessariamente infeliz sem a penetração – embora isso possa apresentar limitações importantes com relação à gravidez.
No entanto, essa condição não deve ser vista como uma fatalidade: é possível curar o vaginismo se a mulher desejar.
As mulheres que pensam que têm uma vagina “muito estreita”, por exemplo, devem “desaprender” esse reflexo muscular involuntário. Isso pode ser feito através de exercícios que a ensinam a controlar os músculos em torno da vagina.
As diferentes causas do vaginismo
Muitas das vezes, o vaginismo primário possui origem psicológica. As possíveis causas são:
- rigor religioso ou conformismo social, quando há culpa em relação aos prazeres do próprio corpo;
- histórico de abuso sexual, assédio, estupro ou incesto…
- tendência homossexual latente (a penetração através do pênis é repulsiva)
- rejeição ao parceiro, relação considerada depreciativa,…
O vaginismo secundário exige que se procure uma causa fisiológica através de um exame ginecológico. As causas possíveis são:
- ginecológicas: infecção por levedura vaginal, vaginite relacionada ao Trichomonas vaginalis, vaginite atrófica causada pela menopausa
- obstétricas: laceração no parto, episiotomia (ato cirúrgico para abrir o períneo durante o parto) mal cicatrizada
- iatrogênicas: cobaltoterapia (alta exposição à radiação de alta energia de uma fonte de cobalto-60 para destruir células cancerígenas)
A causa do vaginismo do tipo “fobia” certamente não é sempre a mesma e depende de mulher para mulher, cada uma tendo a sua própria história. Ainda assim, podemos notar a importância da infância e da adolescência para a descoberta do próprio corpo e da sexualidade: muitas vezes essa fase esteve em falta na vida de muitas jovens.
Algumas vezes as proibições morais ou religiosas são tão forte que a descoberta da própria sexualidade é impossível para as mulheres jovens. Um evento inofensivo pode também passar despercebido (mais raramente, até provocar traumatismos), mas desencadear um vaginismo.
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Tratamentos para o vaginismo
Caso haja uma lesão, o tratamento será específico contra a causa do problema. Na ausência de uma lesão, deve-se considerar a terapia com psicólogos, preferencialmente especializados em sexualidade.
A sua paciente deve ter a possibilidade de expressar as suas ansiedades e poder dialogar com o médico ou psicólogo, com objetivo de desmistificar ideias erradas sobre a condição. Pode ser necessário trabalhar o corpo, o períneo, a vagina e se educar sexualmente e anatomicamente.
A paciente poderá aprender ao longo do seu percurso a introduzir as chamadas velas de Hegar, de vários tamanhos, com exercícios de contração e relaxamento.
O vaginismo continua a ser um sintoma que se cura muito facilmente.
Para concluir…
A partir do momento em que o vaginismo é um problema para a vida sexual, algo traz vergonha, dor ou complexos psicológicos, é necessário consultar um médico e não deixar de falar sobre isso.
As mulheres, tal como os homens, podem ter problemas sexuais. O que se deve ter em mente é que soluções existem.
A penetração não é o único aspecto da sexualidade (muito pelo contrário, a relação pode ser muito boa sem ela!), mas também não se deve rejeitar a penetração por pensar que a própria vagina é “muito estreita”.
Lembre-se que empurrar esse problema para debaixo do tapete durante anos torna mais difícil a cura. E é por isso que é importante se consultar cedo, em vez de apenas ir lidando com o problema sozinha.
Além disso, algumas mulheres nesses casos podem se afastar dos homens pelas razões erradas (por se depararem com um parceiro incompreensível sobre o assunto, por exemplo). Nem todos os homens são iguais e é importante que você consiga falar sobre o problema com o seu parceiro.
As ideias pré-concebidas sobre a penetração estão mudando, e sabemos que a maior parte da sexualidade feminina ocorre fora do canal vaginal. Por isso, é importante que as mulheres que sofrem com esse problema não vivam cercadas de estereótipos, tal como um homem que sofre de disfunção erétil.
Sexualidade NÃO é apenas penetração.
Estamos falando de anatomia íntima: devemos ser capazes de quebrar esses tabus através do diálogo, sem esconder problemas de saúde.
Referências
- Revista Multidisciplinar e de Psicologia v. 13, n. 43 (2019). Sintomas do vaginismo em mulheres submetidas à episiotomia.
- Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 279-83 (jul./set., 2009). Efetividade de intervenções fisioterapêuticas para o vaginismo.
- Melina Serra, PUC-SP (2009). Qualidade de vida e disfunção sexual: vaginismo.
Tenho interesse em conversar com especialista, tenho 60 anos e não consigo ter relação c meu esposo, pois tenho muita for, e não aparece problema nenhum.
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